A confissão, reconciliação, sacramento da penitência ou sacramento do perdão é um sacramento que envolve a remissão de pecados perante um padre (presbítero) ou bispo que neste momento atua em nome de Cristo, e o recebimento do perdão divino das faltas confessadas e de uma penitência (reparação de danos causados pelo pecado). É praticado na Igreja Católica, na Igreja Ortodoxa e em algumas comunidades religiosas da Igreja Anglicana. A Igreja Católica pune automaticamente com excomunhão qualquer sacerdote que revelar o que lhe foi dito em confissão.
Na Bíblia
Jesus Cristo cedeu aos doze apóstolos o poder de perdoar os pecados (Jo 20,21-23). São Paulo posteriormente adverte da necessidade e da origem deste sacramento (2Cor 5,18). As Igrejas cristãs que praticam a confissão ensinam que este poder foi transmitido ao clero, que pode ser visto como os sucessores espirituais dos Apóstolos, que continuariam a transmiti-los. O poder de perdoar os pecados, porém, não deve ser conferido a qualquer um (1Tm 5,22), ainda que o valor deste sacramento não dependa da santidade pessoal do sacerdote (Rom 5,11), pois o objetivo é evitar escândalos causados por pessoas despreparadas, que não compreendam este sacramento em sua totalidade (1Tm 4,14).
Arrepender-se é preciso
Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica 297, além do perdão dos pecados conferido pelo Batismo, é necessário o sacramento da penitência "porque a nova vida da graça, recebida no Batismo, não suprimiu a fragilidade da natureza humana nem a inclinação para o pecado (isto é, a concupiscência), Cristo instituiu este sacramento para a conversão dos baptizados que pelo pecado d’Ele se afastaram."
Os atos do penitente são "um diligente exame de consciência; a contrição (ou arrependimento), que é perfeita, quando é motivada pelo amor a Deus, e imperfeita, se fundada sobre outros motivos, e que inclui o propósito de não mais pecar; a confissão, que consiste na acusação dos pecados feita diante do sacerdote; a satisfação, ou seja, o cumprimento de certos actos de penitência, que o confessor impõe ao penitente para reparar o dano causado pelo pecado."
"Devem-se confessar todos os pecados graves ainda não confessados, dos quais nos recordamos depois dum diligente exame de consciência. A confissão dos pecados graves é o único modo ordinário para obter o perdão."
Resumidamente, a penitência desempenha a função de perdoar os pecados do indivíduo, e assim alcançando a absolvição ou o perdão de Deus.
Penas temporais
Mas, o perdão obtido pela Reconciliação não significa a eliminação total das penas temporais, ou seja, do mal causado como consequência do pecado já perdoado, necessitando por isso de obter indulgências e de praticar as boas obras, a fim de reparar o mal cometido pelo pecado. Se as penas temporais ainda não forem eliminadas durante a vida terrena, as pessoas que as têm necessitam de uma purificação no Purgatório, antes de entrar no Paraíso.
Indulgências
A indulgência é a eliminação total ou parcial das penas temporais do cristão devidas a Deus pelos pecados cometidos, mas já perdoados pelo sacramento da Confissão, na vida terrena. A existência das indulgências é a consequência da crença católica de que o perdão obtido pela confissão não significa a eliminação das penas temporais, ou seja, do mal causado como consequência do pecado já perdoado, necessitando por isso de obter indulgências e praticar as boas obras, a fim de reparar o mal que teria sido cometido pelo pecado.
Recebendo indulgências
Entre as práticas que levam o cristão a obter uma indulgência, há, por exemplo, a reza do Santo Rosário, os Exercícios Espirituais de St. Inácio de Loyola, a leitura piedosa das Sagradas Escrituras, o uso e devoção ao Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, a visita ao Santíssimo Sacramento durante pelo menos 30 minutos, bem como o uso constante de um objeto de piedade, devidamente benzido pelo Sumo Pontífice ou por um Bispo ou ainda por um padre (crucifixos, medalhas bentas, etc.). Além disso, certas orações aprovadas pela autoridade eclesiástica também conferem indulgências, são algumas delas:
"Nós vos damos graças, Senhor, por todos os vossos benefícios. Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém".
Santo Anjo (oração ao Anjo da Guarda).
Angelus, Regina Caeli.
Alma de Cristo.
Creio.
Ladainhas aprovadas pela Igreja.
Magnificat.
Lembrai-vos.
Miserere.
Ofícios breves: Ofícios breves da Paixão de Cristo, Sagrado Coração de Jesus, da Santíssima Virgem Maria, da Imaculada Conceição e de São José.
Oração mental.
Salve Rainha.
Sinal da Cruz.
Veni Creator.
Santo Rosário.
Das primeiras formas de indulgências às que temos hoje em dia houve grandes modificações, visto que as antigas eram muito mais físicas, o que impossibilitava o cumprimento pelas pessoas mais idosas.
Existe um livro recém lançado - Indulgências - Esse tesouro é seu!, do Pe. Ernani Maia dos Reis (prior do Mosteiro Santíssima Trindade) que explica o que são as indulgências de modo extremamente simples e ainda tem uma lista de práticas indulgenciadas
Exame de consciência
O exame de consciência, que serve para o pecador rever e deliberar sobre os pecados cometidos e também as boas obras praticadas, é baseado nos Dez Mandamentos, que é a base mínima da conduta moral correta de qualquer católico:
1º - Amar a Deus sobre todas as coisas.
2º - Não invocar o Santo Nome de Deus em vão.
3º - Guardar domingos e festas de guarda.
4º - Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores).
5º - Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo).
6º - Guardar castidade nas palavras e nas obras.
7º - Não furtar (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo).
8º - Não levantar falsos testemunhos.
9º - Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
10º- Não cobiçar as coisas alheias.
A confissão e a Igreja
Sobre este sacramento, Bento XVI disse: "O Sínodo lembrou que é dever pastoral do bispo promover na sua diocese uma decisiva recuperação da pedagogia da conversão que nasce da Eucaristia e favorecer entre os fiéis a confissão frequente. Todos os sacerdotes se dediquem com generosidade, empenho e competência à administração do sacramento da Reconciliação, limitando a prática da absolvição geral exclusivamente aos casos previstos, permanecendo como forma ordinária de absolvição apenas a pessoal."
Por isso, o fiel, ciente de que deve se confessar pelo menos uma vez por ano pela Páscoa da salvação, ao receber a absolvição deve ficar atento à fórmula da absolvição, quando o presbítero diz que o Pai das misericórdias é a fonte de todo o perdão e que Ele realiza a reconciliação dos pecadores pela Páscoa do seu Filho e pelo dom do seu Espírito, através da oração e do ministério da Igreja.
Como fazer uma boa confissão?
Após um meticuloso exame de consciência para a confissão, por meio da oração e do exame de consciência, o fiel aguarda pacientemente a sua vez, invocando para si e para o próximo a luz do Espírito Santo e a graça de uma conversão radical. Aproximando-se do sacerdote no confessionário, ele faz o sinal-da-cruz e deve iniciar a confissão dizendo: "Padre, dai-me a vossa bênção, porque pequei". Em seguida, com a maior precisão possível, diz o tempo transcorrido desde a última confissão, seu estado de vida (celibatário, casado, viúvo, estudante, consagrado, noivo ou namorado...) e se cumpriu a penitência recebida da última confissão. Pode ainda levar ao conhecimento do confessor os acontecimentos nos quais se sentiu particularmente perto de Deus, os progressos feitos na vida espiritual. Segue-se a confissão dos pecados, com simplicidade e humildade, expondo os fatos que são transgressões da lei de Deus e que mais intensamente pesam na consciência.
Primeiro, são confessados os pecados graves ou mortais, conforme sua espécie e número, sem perder-se em detalhes e sem diminuir a própria responsabilidade. Para se obter um aumento da graça e força no caminho de imitação de Cristo, confessam-se também os pecados veniais. Depois, dispõe-se a acolher os conselhos e advertências do confessor aceitando a penitência proposta. O penitente reza o ato de contrição e o sacerdote pronuncia a fórmula da absolvição. Ele despede-se do sacerdote respondendo à sua saudação: "Demos graças a Deus", e então permanece um pouco na Igreja agradecendo ao Senhor.
Exemplos de Ato de Contrição para o final da Confissão
O Ato de Contrição é uma oração que expressa a tristeza pelos pecados realizados, reconhecendo o pecado como um mal em sua vida, renunciando-o definitivamente.
“Meu Deus, tenho muita pena de ter pecado, pois ofendi a Vós e mereci ser castigado. Meu Pai e Salvador, perdoai-me, não quero mais pecar. Amém.”
"Meu bom Jesus, crucificado por minha culpa, estou muito arrependido por ter feito pecado, pois ofendi a vós tão bom, e mereci ser castigado neste mundo e no outro; mas perdoai-me, Senhor, não quero mais pecar. Amém."
“Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração de vos Ter ofendido, porque sois tão bom e amável. Prometo firmemente, ajudado com a vossa graça, fazer penitência e fugir às ocasiões de pecado. Amém”.
Considerações finais
Todo Católico é chamado de forma muito especial, a confessar-se na Semana Santa, num tempo específico de conversão. A confissão é um grande instrumento de Fé, Conversão e Renovação para o Cristão por Amor de Cristo em sua Páscoa, que é passagem do pecado para a vida da Graça.
Mas não só na quaresma, ou na Semana Santa, porém a todo momento somos chamado a receber este Sacramento que nos reconcilia com Deus, Sacramento que cura o coração ferido pelo pecado e renova a chama da certeza do Amor de Deus por nós em sua misericórdia.
Renato Emanuel
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